O que é streaming sustentável
Há três anos, neste mês, a indústria do streaming tomou consciência da necessidade de adotar uma abordagem mais ecológica para o streaming.
Desde então, várias empresas e organizações foram além das promessas e passaram a buscar ativamente soluções para um streaming sustentável, a fim de reduzir o consumo geral de energia e o impacto ambiental.
Para esclarecer esses desenvolvimentos, focaremos em algumas áreas práticas-chave que grupos de trabalho, dentro de uma organização relativamente nova na indústria, estão utilizando para moldar discussões sobre vários aspectos do fluxo de trabalho do streaming. Isso inclui codificação, distribuição e recomendações para dispositivos dos usuários finais.
Para quem não está familiarizado, a organização conhecida como Greening of Streaming (GoS), fundada por Dom Robinson, leva seu nome de um artigo importante que Dom e o autor co-escreveram para a revista Streaming Media em maio de 2020.
Nesse artigo, eles defenderam a necessidade de discussões e ações em nível industrial para criar soluções de distribuição de conteúdo em streaming que considerem não apenas preço e desempenho — fatores críticos para o sucesso do streaming de conteúdos on-demand e ao vivo — mas também soluções projetadas com um terceiro elemento em mente: a eficiência energética.
A organização GoS
Para quem não sabe, a organização da indústria do streaming chamada Greening of Streaming (GoS), fundada por Dom Robinson, recebeu esse nome por causa do artigo citado acima.
A GoS, estabelecida em 2021 como um consórcio para mídia sustentável, recebeu recentemente o prêmio NAB Show Excellence in Sustainability 2023, na categoria Liderança.
A GoS opera com vários grupos de trabalho internacionais ativos. A organização é composta por importantes operadoras, provedores de serviços e fornecedores de tecnologia da indústria do streaming. Seu principal objetivo é melhorar a eficiência energética e a sustentabilidade na arquitetura e design dos serviços de streaming. Ela enfatiza a importância de considerar a eficiência energética como um fator de design tão significativo quanto preço e desempenho no desenvolvimento de sistemas.
Basicamente, a GoS funciona como um User Group (UG) liderado pela indústria, com o objetivo de moldar percepções e influenciar o desenvolvimento de padrões técnicos relacionados ao streaming por meio de pesquisas contínuas sobre as melhores práticas para aquisição e distribuição de fluxos. Seu objetivo principal é defender que a eficiência energética seja reconhecida como um KPI (indicador-chave de desempenho) essencial pelas Organizações de Desenvolvimento de Padrões (SDO).
Um ponto de destaque na indústria do streaming é o acordo LESS, uma iniciativa liderada pela GoS. Ele serve como premissa prática e também como um chamado à ação, incentivando uma participação e colaboração mais amplas em toda a indústria para alcançar práticas de streaming sustentáveis e com baixo consumo energético.
O conceito de sustentabilidade na mídia
Esse conceito de entrega sustentável é apoiado por pesquisas científicas há mais de uma década, com os membros fundadores da GoS ativamente envolvidos em estudos fundamentais sobre o tema. No entanto, o progresso na implementação de práticas sustentáveis tem sido lento.
Um exemplo desse progresso lento pode ser visto em um projeto de pesquisa que focou no consumo de energia de DVRs domésticos (gravadores digitais) na distribuição de conteúdos on-demand legados para MVPD, distribuição over-the-air (OTA) e distribuição direta ao domicílio (DTH).
A pesquisa
A pesquisa formou a base de um estudo de referência da indústria em 2012, que estimou o consumo de energia dos DVRs — e, surpreendentemente, essa estimativa ainda é válida hoje.
Foi revelado que apenas os DVRs domésticos consumiam energia equivalente à produção de três usinas nucleares nos Estados Unidos continentais.
Essa estimativa baseava-se no fato de que a maioria dos DVRs domésticos consumia cerca de 33 watts por hora quando em uso (com média de 14 horas diárias, totalizando 169 kWh por ano) e uma quantidade semelhante de energia (31 watts) durante as 10 horas do ciclo de suspensão.
A diferença principal entre os modos ativo e de suspensão era apenas o escurecimento da tela do DVR, enquanto os discos rígidos continuavam girando e gravando conteúdos — que muitas vezes nem eram assistidos pelos consumidores.
Surpreendentemente, os consumidores retornavam à TV para assistir a outros conteúdos em vez de recuperar os programas gravados, mesmo quando não estavam presentes no momento da gravação.
Esse consumo elevado era resultado de uma suposição equivocada sobre o uso do dispositivo: a indústria acreditava que os consumidores não tolerariam os 3 a 4 segundos necessários para que o dispositivo retomasse a operação completa a partir do estado de suspensão e os discos rígidos começassem a girar para acessar os conteúdos gravados.
Consequentemente, os discos rígidos dos DVRs continuavam funcionando, e o nível de consumo de energia nunca caía para um ciclo de suspensão real de 3-4 watts.
Essas descobertas foram um forte alerta, levando a um acordo voluntário da indústria conhecido como Set-Top Box Voluntary Agreement.
Assinado pela primeira vez em 2013, esse acordo visava reduzir o consumo de energia e abrangia os set-top boxes fornecidos por empresas de TV a cabo, satélite ou telefonia, cobrindo mais de 90% do mercado de TV por assinatura nos EUA.
Ele foi revisado em 2018, renovado no ano passado, e sua validade — cobrindo o consumo energético dos dispositivos — foi estendida até 2025.